O SAFe é prescritivo?

Essa semana me envolvi em uma super discussão sobre o SAFe (Scaled Agile Framework) que me fez refletir sobre algo que sempre falam por aí, e eu sempre nego: “O SAFe é muito prescritivo!”.

A frase inspiradora pra esse artigo foi essa: “As pessoas gostam simplesmente porque SAFe é prescritivo e infelizmente elas precisam de coisas (ferramentas, processos) que os digam o quê e como fazer ao invés de experimentarem e ativar o processo criativo de descoberta.”

Eu acho que existe muito gap de informação e conhecimento por aí! Primeiramente, vamos na própria fonte:

SAFe® 5 for Lean Enterprises é uma base de conhecimento de princípios, práticas e competências comprovadas e integradas para alcançar a agilidade de negócios por meio da implementação de Lean, Agile e DevOps em escala

Bom, aí já vem algo que muitos não costumam mencionar: O SAFe não é algo inventado pela Scaled Agile. Na verdade, a Scaled Agile observa o que as maiores empresas do mundo têm feito para endereçar os desafios da agilidade em escala. Ele é uma base de conhecimento que reune todas essas práticas e, como tal, cumpre muito bem o seu papel.

Eu não sou mais defensor de nenhum framework atualmente (já fui muito do SAFe), mas consigo reconhecer essa base do SAFe como importante (e talvez até essencial) para o agilista. Os princípios Lean Agile são trazidos de forma muito bacana pelo framework, e inclusive ele é um dos poucos que trazem as duas fontes de forma consistente: Lean E Agile.

Nessa discussão que me refiro, olha só a armadilha que me meti. Quando questionado:

Thiago, Dá pra rodar Safe sem PI planning e sem ART?

E essa foi minha resposta:

…acho que vai na linha do que o outro Thiago disse.. usar PRÁTICAS do SAFe é diferente de usar SAFe. Pra mim o mínimo pra se dizer que usa SAFe é rodar PI Planning (ou Big Room Planning) e cadência única dos times. E essas duas coisas não fariam muito sentido sem ser em um conceito de ART (ou Tribo, como preferir). Eu acredito que são as principais características do SAFe. Começamos com isso e vamos agregando todos os princípios Lean Agile com a evolução desses ARTs.

E dai, claro, fui trucado:

Exato, portanto, com essa conclusão, Safe é prescritivo. Sem ART, PI, Program Board, não é Safe.

Bom, vamos lá! O que é um ART?

  • Uma organização virtual de 5 a 12 equipes (50 a 125+ indivíduos)
  • Sincronizado em uma cadência comum, um incremento de programa (PI)
  • Alinhado a uma missão comum por meio de um único Backlog do programa

Ou seja, estamos falando de uma estrutura que tem entre 50 e 125 indivíduos, e nesse caso, uma Big Room Planning se mostra muito relevante, usar uma cadência comum de sincronização (um time-box que abrace mais do que um sprint) e ter um único backlog como missão são práticas que favorecem a organização desse cenário.

O que muitos fazem é tentar usar isso tudo em contextos onde: temos 2 ou 3 times, com nem 20 pessoas, que atuam em produtos e contextos diferentes e muitas vezes nem se conversam e nem possuem dependências. Aí é claro que não faz sentido ter ART, PI e muito menos PI Planning (e claro, o SAFe em si).

Mas e aí Thiago, nesse caso, o SAFe não é recomendado? Então, vamos lá! O SAFe é uma base de conhecimento de práticas comprovadas, logo, é claro que ele vai conter práticas que podem ser boas no seu cenário. A imagem abaixo, por exemplo, concentra uma gama de conceitos e princípios Lean Agile que qualquer organização pode (e deveria) seguir:

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Olha só o que o SAFe fala sobre os princípios:

Uma doença comum que aflige a gestão em todo o mundo é a impressão de que “Nossos problemas são diferentes.” Eles são diferentes, com certeza, mas os princípios que ajudarão a melhorar a qualidade dos produtos e serviços são universais por natureza. – W. Edwards Deming

E o que o SAFe faz é incorporar os princípios Lean Agile em todo o framework, indicando o seu uso em todos os pontos. Baseado nos principios, e fácil entender porque costumamos usar Kanban, Sprints, Big Room Planning e tantas outras práticas que, sem principios em sua base, não trazem resultados consistentes. E o SAFe prioriza os principios em cima das estruturas.

Outra coisa que ouvi por ai: “Como o SAFe se diz centrado no usuário, se o usuário aparece só em um ponto da Big Picture?”.

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E sabe o que é isso, mais uma vez? Total desconhecimento do Framework! É um julgamento e uma informação passada com base em uma interpretação equivocada de uma imagem. O SAFe estrutura seu conteúdo em 7 competências core que endereçam juntas o Customer Centricity:

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E agora eu pergunto uma coisa: que modelo, prática, framework, metodologia, método ou o que quer que seja não é prescritivo? A única coisa que não é prescritiva é a nossa criatividade em organizar tudo que está disponível em um modelo próprio, que atenda as necessidades do nosso contexto. E é isso que eu defendo atualmente: conheça tudo, estude, se aprofunde. E [copie e adapte] aquilo que fizer sentido para o seu contexto.

E nesse ponto, reafirmo: o SAFe como um corpo de conhecimento (que é o que ele se propõe) é excelente e relevante em Lean Agile. Você não precisa seguir a risca o roadmap de implantação e todas as recomendações do framework. Apenas se atente para:

  1. Você usa o SAFe (ou seja, seguiu o roadmap, criou ARTs e roda PI Planning) ou
  2. Você se baseia no SAFe (aprendeu os conceitos e aplica no seu dia a dia)

Só não fale que usa SAFe só porque organizou um monte de time desconexo em um Trem, ou que prefere Kanban porque é menos prescritivo (você sabia que o SAFe faz um uso incrivel de Kanban, upstream, dowstream, flight levels? Pois é, tá tudo lá!).

Aliás, independente do que possam dizer sobre o SAFe, eu considero o workshop Leading SAFe como algo quase obrigatório quando se fala em agilidade. Eu fiz em 2018 dentro da Accenture e para mim, foi uma experiência incrível para reforçar práticas e princípios Lean Agile como eu nunca havia imaginado!

Quero saber o que você acha de tudo isso! Aliás, se você também super critica o “Modelo Spotify”, que tal fazer comigo o paralelo Modelo Spotify X SAFe? No fundo, são muito parecidos! São dois modelos que usam as melhores práticas Lean Agile para o contexto onde estão inseridas!

Aproveite para ver o artigo que escrevi aqui no LinkedIn sobre a minha participação numa PI Planning com 240 pessoas! Foi uma experiência incrível que, naquele contexto, fez toda a diferença para a organização que decidiu por esse caminho!

Autor: Thiago Brant

Agile and Leadership Permanent Learner | Agile People Development, Coach and Trainer | Management 3.0 Facilitator | SAFe 5 Program Consultant | Reiss Motivation Profile® Master


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