Até quando teremos trabalho repetitivo no Agile?

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E aí malta, como estão? Espero que estejam bem e “agilizando” os seus projetos, 😂.

Então, tenho pra mim que este tema vai gerar treta, mas é o que é e vamos a isso… 

Muitas pessoas do Agile têm o hábito de comparar a forma de gerenciar o trabalhador industrial vs o trabalhador do conhecimento em talks, aulas, eventos e etc. Eu mesmo falo isso na formação de Management 3.0.

A questão que levanto é: quais são as diferenças do modelo “old school” pro agile? Se calhar, muito pouca, porque:

Old SchoolAgile
Horário de Entrada e SaídaHorário de entrar, sem horário de sair
Bater o cartão de pontoCadastrar horas no Jira, Azure Devops ou outra tool agile.
Entre 45” a 1 hora de almoçoDifícil almoçar com as 500 milhões de reuniões que marcam no horário do almoço.
Gerente descarregando trabalho para o colaboradorAgile Coach, Product Owner, Product Manager e outros stakeholders descarregando trabalho para o colaborador
Poucas reuniões. Era basicamente fazer o que o gerente mandava.Excesso de reuniões e muitas ao mesmo horário
Trabalho RepetitivoCerimônias repetitivas (Planning, Daily, Retro, Review, Refinement)
Nenhuma autonomiaBaixa autonomia. Muitos itens que são reportados nas Retros costumam ser “ignorados” pela gestão.
Nenhum empoderamentoFake empower – De maneira geral faz-se o que a gestão determina. 

Esses são somente algumas situações que vieram à tona e tenho certeza que vocês devem vivenciar outras mais que poderiam, infelizmente, aumentar essa lista.

Seria então certo continuar a comprar o “old school” com o agile? Sinceramente eu acho que não. Até acredito que em breve teremos algum agilista postando uma foto ou imagem semelhante ao do Chaplin abaixo, mas com o contexto atual. Tá triste, viu?

Charlie Chaplin – Tempos Modernos – 1917

É óbvio que estou fazendo uma comparação totalmente extrema e tenho a certeza que não é bem assim. Eu realmente acredito que evoluímos enquanto sociedade e que existem menos trabalhadores repetitivos, mais automações, empoderamento e autonomia.

A reflexão que quero trazer é que nós mesmos, trabalhadores do conhecimento, estamos repetindo o modelo de trabalho “old school” connosco mas de outras formas. 

E cito o exemplo do Scrum, que é uma framework que possui algumas cerimônias e que devem ser repetidas infinitamente (até que o produto exista, pelo menos).

O problema é que tenho conversado com MUITA gente que está cansada dessa repetição pois ficam num ciclo infinito de começar sprint, fazer cerimônias, terminar sprint e repetir tudo de novo.

A malta não consegue descansar, parar e respirar pois sempre tem que se iniciar uma nova sprint, porque é importante para o negócio, cliente, métricas, okrs, ou qualquer outra razão, que até faz sentido. Mas isso cansa e desgasta. E muito!!!

Eu mesmo quando tenho que trabalhar com Scrum (seja atuando como Product Manager ou Agile Coach) confesso que fico #chateado porque vou entrar nesse loop de cerimônias e “batida de bumbo” que desgasta demais a longo prazo.

Gostava de deixar claro que eu não estou a falar mal do Scrum, mas sim, que ao utilizarmos, temos que tomar cuidado com os Loops Causais que ele pode criar. 

Ou seja, para resolver o “problema” de entregar melhor, continuamente e com mais iteração, estamos a criar outro problema, que é o desgaste das pessoas e em alguns casos, até mesmo Burnouts.

Temos que estar muito atentos ao que está a acontecer com a equipa para encontrar um balanço entre a saúde e qualidade de vida dos colaboradores com os resultados que precisamos entregar nas empresas.

Uma sugestão que dou para ajudar a resolver a questão da repetição é de acompanhar e realmente estar presente junto à equipa. Com isso, será possível fazer ajustes consoantes à necessidade deles.

Um exemplo real que posso partilhar, é que em algumas das equipas que trabalho nós decidimos fazer as reviews e retrospectivas mensalmente, ao invés de quinzenalmente. O que você deve estar pensando agora é: “mas Ricardo, você só mudou o templo de ciclo, a repetição continuará a acontecer”. E você tem razão em pensar isso.

Mas esta não foi a única mudança, existem outros acordos que fizemos que sustentam o processo que são:

  • As “reviews” vão acontecer sempre que se fizer sentido. Se tivermos algo de valor a apresentar para os “stakeholders” , antecipamos a cerimônia para não ter o custo do atraso;
  • Se ao chegar perto da data da cerimônia e não tivermos nada de valor para apresentar, cancelamos a reunião para ganhar o tempo em fazer outra coisa, ou até mesmo descansar;
  • Todos nós enquanto equipa somos responsáveis pelas ações de melhoria contínua que foram levantadas na retrospectiva. Temos o comprometimento de acompanhar e trabalhar nas ações para que elas se resolvam o mais breve possível e que não virem um “parking lot” de reclamações;
  • O backlog precisa ser “vivo” e estar atualizado para sempre que tivermos capacidade, puxarmos novos itens para a iteração, mesmo que a próxima planning ainda demore a acontecer pois nosso foco é entregar valor de negócio para empresa e não sobre cumprir “à risca” um framework;
  • Os papéis e responsabilidades estão claros e com isso, não existe chefia, e sim alinhamentos de quem faz o que, visando o equilíbrio e sustentabilidade da equipa.

Sim, não estamos a trabalhar com Scrum “by the book” e nem queremos isso pois uma framework não pode ser uma condição mandatória da equipa trabalhar. Na realidade estamos num misto de “scrumban” que é uma forma de usar o que há de melhor no Scrum e Kanban, conforme a necessidade da equipa e da empresa. E está a funcionar, e é isso que importa.

A reflexão que quero trazer, é que nós, enquanto agentes da mudança, temos que estar atentos para não repetir os mesmos erros do “old school” em “gerenciar” as equipas e o trabalho de uma forma repetitiva sem ter um ritmo sustentável. 

Eventualmente é importante ter espaço para descompressão e sem pressão de entregas para que as pessoas possam descansar, abstrair e conseguir focar em descansar ou até mesmo trabalhar em algo criativo. 

Confesso que desde que comecei a fazer essas mudanças nas equipas que eu faço parte, a colaboração entre nós  tem sido muito melhor e maior e com isso, estamos a ter resultados significativos na qualidade e entrega do que fazemos.

E você, está a viver algo parecido? Conhece alguém neste cenário? Caso responda sim, fique tranquilo pois este artigo pode te ajudar um pouco a melhorar essas questões, mas me coloco à disposição para conversar sobre o assunto.

Então, bora conversar?

Autor: Ricardo Caldas

Referências

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