… Sem saber por onde começar, Gus e o elfo foram para a principal taberna da cidadela para pensar. E assim fizeram.
A dupla foi até a taberna e enquanto comiam, bebiam e descansavam da viagem aproveitaram para conversar com o dono do estabelecimento mas também com alguns moradores que estavam nas mesas ao lado.
Intrigados com o que tinham escutado, decidiram ir até outro estabelecimento e repetir o que tinham feito: comer, beber, conversar e escutar.
Assim fizeram durante toda a tarde e a noite, mas tomando notas dos principais temas desejados e reclamados pelas pessoas e comerciantes locais.
Ao amanhecer Gus e o elfo tinham muitas informações e relatos e queriam repetir a mesma ação com os nobres e o governante, em busca de ajudar a melhorar a vida no reino. Como eles tinham ficado algum tempo fora, não tinham mais acessos à nobreza e precisam bolar um plano para lá chegar.
Seja por destino ou sorte, passa o sátiro ao lado da dupla a reclamar da vida, dos problemas, dos cidadãos mas principalmente do governante (minotauro), que nunca lhe dá ouvidos, que só dá ordens sem sentido e do medo que tinha em não acatar tais ordens.
“Pumba, taí a oportunidade!”, comentou a dupla simultaneamente…
“Sátiro, ô Sátiro… Venha cá tomar um pequeno almoço connosco”, gritou a dupla a convidar o sátiro para se juntar a eles. O sátiro não entendeu nada. Olhou ressabiado sem perceber quem seriam as 2 pessoas que estavam a gritar. Mas como estava com fome, cansado e sem vontade alguma de voltar ao castelo para levar más notícias ao governante, decidiu parar e aceitar o convite.
O trio ficou conversando pela manhã inteira. Na verdade o sátiro ficou a falar por 99% do tempo, falar não, reclamar de tudo que estava a acontecer, desde o trabalho impossível de fazer o que o mestre mandava mas também de que ele mesmo achava injusto o que os cidadãos passavam.
Gus e o elfo nunca ouviram e viram tanta verdade desse indivíduo. Chegaram a cochichar: “e a gente achava que ele era uma má pessoa…”
Ao final da conversa a dupla se colocou à disposição para ajudar o sátiro, pedindo-lhe que os levassem para o castelo, de forma que pudessem conversar com os nobres e se conseguirem, também com o governante, o minotauro.
Lá foram os 3 a caminhar conversar com os nobres pelos jardins, salões e demais lugares onde tinham pessoas interessadas em contar suas perspectivas sobre o reinado e também perceber mais sobre outros reinos mas também sobre as perspectivas dos cidadãos.
Foram 3 dias de conversas, negociações, anotações até que de repente apareceu o minotauro e gritou: “o que se passa por aqui? Quem são esses insolentes que estão a espreitar os meus súditos e a nobreza sem me pedir autorização?”.
Silêncio!
Passados alguns segundos (que pareceram uma eternidade) o sátiro se manifestou: “meu senhor, sou eu e mais 2 colegas que estamos a seguir vossas ordens de organizar o vosso reino. Que bom que o senhor chegou, pois gostávamos de conversar connosco e verificar se estamos a trabalhar conforme as vossas orientações.”
“Muito bem, sátiro! Achei que estavas a me trair. Pois compareçam ao meu escritório em 30 minutos para conversarmos”, disse o minotauro.
Estavam os 4 no escritório, no horário combinado a escutar as perguntas do governante:
“Que andam a fazer? Quais são vossas intenções? O que se passa no meu reino e nos reinos ao redor?”.
O sátiro, que tinha entendido como “jogar o jogo” rapidamente respondeu: “Estamos a conversar com os cidadãos e a nobreza para verificar a melhor maneira de atender vossos pedidos, meu senhor. Mas seria importante escutar de vossa majestade o que desejas, para quando desejas e por que desejas?”.
O governante não esperava essas perguntas, mas ficou feliz em escutá-las e ficou a tagarelar por vários minutos, contando seus objetivos, anseios e desejos que estavam sendo escutados ativamente pelo trio, que também faziam anotações e eventualmente conversavam entre si.
Passado algum tempo, o minotauro perguntou se lhes parecia bem e se estava alinhado com os desejos do reino. Os 3 responderam sincronizadamente: “Sim senhor, tá tudo certo”, e a completar “começaremos hoje mesmo e traremos informações semanalmente para manter vossa majestade informada e também para tomar as devidas decisões que forem necessárias”. “Perfeito”, finalizou o minotauro.
O trio estava feliz, bem disposto e foram direto para a sala da colaboração, que havia sido recentemente renomeada em homenagem ao reino que a pouco estiveram. Ao longo dos próximos dias eles convidaram nobres, cidadãos, donos de estabelecimentos ao final da 1ª semana já tinham um plano de ação desenhado, já iniciado e com alguns pequenos resultados.
O trio foi ter com o minotauro e apresentar os resultados dos trabalhos e o governante ficou espantado com a forma que foi organizado e em tão pouco tempo já tinham tido alguns resultados. Naturalmente ele quis saber qual foi a mágica utilizada para tal proeza e o trio explicou ao minotauro que começaram pelos pontos em comum entre o rei, nobreza, comerciantes e cidadãos e que poderiam trazer o melhor retorno possível.
Antes de terminar a reunião o minotauro perguntou como e onde eles aprenderam tais técnicas e por que eles nunca tinham feito isso antes.
E a resposta foi: “Nós nunca havíamos perguntado ao senhor e aos demais o que vocês queriam. Nós somente aceitávamos e executávamos as ordens. Além disso, senhor, passamos alguns dias no reino da colaboração, aqui ao lado, e aprendemos com eles a escutar, perguntar e como organizar melhor os interesses de todos.”.
O trio achou que o governante iria mandar prendê-los por citar um reino “concorrente” e utilizar técnicas externas em seu reinado sem a aprovação prévia dele, mas para surpresa de Gus, elfo e sátiro isso não aconteceu. O governante parabenizou o trio pelo feito e ordenou que seguissem os planos, mantendo-o informado na periodicidade combinada.
E foi o que aconteceu nas próximas semanas e meses. O trio cresceu, tinham mais pessoas a ajudar e a organizar as ações necessárias para o reino crescer e prosperar mais. Algumas pessoas ficaram responsáveis em viajar para as cidadelas mais distantes do reino e ajudá-los no entendimento do novo modelo, entendê-los e alinhar com os demais objetivos do reino.
Ao final, as pessoas aprenderam a conviver em um formato “híbrido” para conseguir atender as necessidades do governante, nobreza, comerciantes e cidadãos e que eventualmente existiam algumas dificuldades que eram ultrapassadas em muita conversa e negociação.
A jornada do trio e seus liderados estava apenas começando. Tinham muito a fazer pelo reino e pelas pessoas, mas estavam confiantes que estavam no caminho certo, errando, ajustando, aprendendo e tentando novamente.
Eles foram felizes para sempre? Creio que não, mas acredito que na maior parte dos dias sim e isso já bastava para eles.
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Essa história foi baseada em fatos quase reais vividos por mim e alguns colegas de trabalho (da empresa atual e também de empresas passadas).
Os reinos foram empresas ou clientes que eu já trabalhei (ou estou a trabalhar). Sem maus ou bons, já estive (e estou) a navegar entre eles. É a vida e tá tudo bem.
Eu me identifiquei com alguns personagens dessa história ao longo da minha carreira profissional porque eu já fui alguns deles em algum momento da minha vida.
Com o tempo tenho aprendido a identificar qual reino estou a conviver e qual é o melhor personagem que devo ser, para ajudar o máximo possível e obtermos os outcomes esperados.
As perguntas que eu faço para vocês são:
- Qual é o seu reino?
- Qual é o seu personagem?
- Tá tudo bem ou tá tramado?
- Tens plano de ação ou estás a reagir e executar tarefas que te mandam?
- O que está a fazer para crescer e ajudar aos demais?
Referências
Revisão: José Nicolau